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terça-feira, janeiro 06, 2015

Catmandu e Nagarkot

Como em tudo na vida, existem bons guias e guias indiferentes.
Imaginei que em uma cultura tão diferente da nossa e em um lugar que estamos nada habituados um guia poderia ter muito a acrescentar.

Levantei de uma noite mal dormida. O corpo ainda se nega a aceitar o novo fuso horário. Fui pro carro decidido a dar uma cochilada durante o trajeto mas não rolou... O Mani, o nosso guia para hoje, já nos recebeu com o resumo da história contemporânea do Nepal, estrutura social, mudança da monarquia para o parlamentarismo e etc.

- Unificação do Nepal:
         O Rei Gorkha vendo os conflitos entre os demais reinados da região decide por unificar os povos. Cada um usa o argumento moral que lhe convém né?
Vindo do leste do Nepal, em 1769 ele toma o reinado de Baktapur (que visitamos ontem) e no ano seguinte toma Catmando e Patan, expandindo a “unificação” (leia-se “conquista”) até as terras mais ao oeste de Catmandu.

- Fim da Monarquia
         A monarquia acaba em 2008 após 7 anos de eventos que mais parecem uma adaptação de Shakespeare envolvendo tragédia familiar passional e ambições por poder absoluto.


PSWYAMBU

A Estupa Pswyambu é também conhecida popularmente como Templo dos Macacos.



Apesar de existir no hinduísmo Haromani, o Deus Macaco, este nada tem a ver com essa estupa budista... a razão do nome popular é que o nome na lingua local é bem difícil de se pronunciar, então os hippies que vieram para o Nepal na década de 60-70 apelidaram a estupa desta forma pelos macacos que ali viviam.


As características são as mesmas da estupa que vimos antes em Boudha: o domo redondo simbolizando a meditação como caminho de auto conhecimento, os 13 degraus como caminho ao nirvana e o nirvana em si.
A principal diferença: os 13 degraus não são em quadrado mas em círculo.


A história dessa estupa (ou seria “lenda”?) conta que no topo dessa colina havia uma flor de lótus que emanava luz na escuridão. Para preservar aquela lótus do mal que pudesse sofrer, construíram a estupa abrigando a flor no seu interior.

Ao redor da grande estupa, outras menores.


E ali no meio, entre uma estupinha e outra, um templo hindu...


Pobre monges! Os hindus invadiram o monumento?
Não não, o monumento a um deus protetor das crianças é super bem vindo!
Acontece que a interface entre budismo e hinduísmo é tão grande que aqui dentro muitas pessoas não consideram o budismo uma religião dissociada em si. Então é comum um hinduísta ir a um monumento budista e vice e versa.
É como se um judeu fosse vez ou outra na vida a uma mesquita se ajoelhar em direção a Meca e rezar. Ou um evangélico pedisse a Santo Antônio uma forcinha no casamento...

Na frente do templo, pombos! Muitos pombos!
Aquela bacia de metal no cao é um local para se oferendar grãos as aves.

No topo da escadaria que leva a estupa, dois leões míticos fazem a proteção e a imagem ao meio esta vinculada a masculinidade.

Logo ao lado um sino, representa a figura feminina.

Outra vezes podemos ver os símbolos combinados, unidos. Apesar do simbolo ser diferente, a representação tem o mesmo sentido que nos templos de Shiva visitados antes.


 E ai, já esculpiu sua flor de lotus hoje?


PATAN & KATHMANDU

Esses são os outros dois reinados que haviam no Vale do Catmandu. Junto com Bahktapur, os três reinados eram comandados por diferentes irmãos antes da unificação pelo exército Gorkha.
Podemos notar nas três cidades muitos elementos iguais como por exemplo o sino em frente ao palácio e claro, a estátua do próprio rei, elevada no ar, sentado sobre uma flor de lótus.





O Palácio de Catmandu é bem interessante, pois há uma sucessão de formas arquitetônicas através dos tempos. Cada rei querendo inovar, acaba por criar esse mix único de estilos em 360º.



Na entrada do palácio vemos uma homenagem verdadeira a Hanuman, o Rei Macaco.
Os contos dizem sobre uma princesa que foi sequestrada por um rei de fora e levada a uma ilha. Hanuman convoca a todos os macacos do continente que jogam pedras no mar até formar uma ponte por onde ele foi resgatar a princesa.
Hanuman se torna assim uma figura popular de adoração pelas famílias reais.

Logo a frente do Palácio de Catmandu fomos visitar o Templo da Kumari, uma deusa viva.


VIVA! Em carne e osso.
A Kumari é a representação da energia feminina. A palavra derivada do sânscrito tem significado de pureza.
A menina é escolhida por volta dos seus 4-5 anos de idade (lembra da cremação, que até essa idade a criança não atinge vida material) e permanece como Kumari até a puberdade, quando uma outra menina é escolhida para assumir seu lugar.

O processo de seleção é super rigoroso e apesar dos vários mitos que o cercam, é um processo religioso fechado.

Ah, detalhe: A atual Kumari foi escolhida em uma família budista...


A visita acaba, meus pais foram bater umas fotos e eu me sentei na escada de um templo a Shiva.
- Muita informação?
- Muita! To processando ainda...
- Então pra esfriar a mente, note as figuras ali no topo desse templo


Isso ai, sexoooo! As imagens servem como forma de educação, exaltam a fertilidade e retratam um cotidiano social da época.





NAGARKOT
Findado os passeios na região da capital, topamos o convite do Ranjit & Dhurba de irmos pras montanhas. O plano: ver o por & o nascer do sol no Himalaia.
Eles estão de férias nas férias de inverno na faculdade e tiraram um tempo pra ir com a gente.
Fomos até a estação de ônibus no centro, que se resume a uma rua de terra batida onde o trocador fica pendurado na porta do ônibus anunciando o destino... quem pegava van no Rio conhece a situação! O difícil é saber que essa aqui é a regra, não a exceção.
Entramos no ônibus e vem a primeira instrução: lado direito é só para mulheres. Eles muito gentis acomodaram meus pais em um banco e nós fomos nos degraus do motorista mesmo.
Trocamos de ônibus no meio do caminho e iniciamos a subida a Nagarkot com o sol já descendo... o por do sol teve que ser pela janela mesmo!

Fomos jantar pela vila: cerveja caseira, comida nepalesa e muito papo do tipo “como que é no seu país...?” =)

A cerveja caseira são alguns grãos fermentados que se coloca água quente. A vantagem: quando acaba a caneca, basta encher com mais água quente que ele extrai mais álcool do grão... digo, mais sabor!



Agora é dormir com 2 meias e 3 cobertas. Se a neblina permitir, veremos o sol nascer amanhã.

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