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domingo, junho 13, 2010

Cracóvia

A idéia de ir a Polônia surgiu a três semanas, e por duas vezes já melou.
Dessa vez eu não ia deixar de ir!

Não havia gente suficiente pra alugar um carro, conforme plano original, e resolvemos os três ir de ônibus na sexta à noite.

Quinta a tarde (10.Junho)  estou eu e um brasileiro no meu quarto, com a nobre missão de tomar um barril de cerveja antes do evento noturno e eis que recebo a mensagem de que a garota desistiu de ir. Pego meu celular:
Flávio: Você tem aula sexta?
Mustafa: Não
Flávio: Vamos hoje então?

Na correria, entrei na internet, pesquisei preços, comprei as passagens de ida, as imprimi e joguei duas mudas de roupa na mochila..
Recebemos um reforço para conclusão da missão barril e vou correndo pegar o ônibus para rodoviária.

Só pra confirmar, verifico no caminho se a passagem está na mochila e:


Putz, comprei pro dia errado!

Escolhi o dia no menu inicial, mas depois na hora da compra não conferi a data e mandei ver..

Voltei pra casa e deixei pra ir no dia seguinte? Claro que não... tentei dar um belo migué na história e adivinha só? Conseguimos embarcar!!
O motorista olhou o papel e fez sinal pra embarcarmos.. se viu o erro ou não eu não sei dizer, o que importa é que estávamos lá.








O trajeto:
Sem lugar marcado, perguntei a um senhor se o lugar ao lado dele estava livre e sentei. A repercussão foi um  o senhorzinho falando em polonês e apontando para eu sentar em outro lugar...
Fui parar no último banco espremido entre um rapaz de dimensões superiores a um assento e uma moça deita em outros dois.

Pra entreter as próximas 12 horas prevista de viagem, um filme com uma dublagem muito peculiar:
O personagem falava em inglês e surgia, segundos depois, uma voz masculina em polonês sobre esta.
Outro personagem fala, e a MESMA voz, em um tom inalterado e desprovido de qualquer interpretação, traduz a fala.




Fronteira:
Depois de aproximadamente 4horas de viagem, chegamos a fronteira entre Alemanha e Polônia. O ônibus encosta num grande posto de gasolina. Hora do lanche...
Opa, não exatamente: Sobem no onibus dois oficiais polonêses solicitando passaporte dos passageiros.
Nem precisei pegar minha mochila... como num estalo de memória, percebi que havia esquecido completamente de trazer meu passaporte comigo!!

E foi mais ou menos assim que eu fui preso...



Em portugês: preso
     Inglês: arrested/jailed
     Alemão: inhaftiert
e claro, em polonês: zatrzymanie

adj preso, presa ['prezu, 'prezɐ]
1 detido em prisão
2 encerrado num local fechado
3 atado, ligado
4 bloqueado, impedido de se deslocar

subst preso, presa - pessoa que cumpre pena de prisão


Sim preso...
Preso de tirar foto no fundo branco...
Preso de fornecer digitais dos 10 dedos e ainda da mão fechada...
Preso de ficar na cela sem o cadaço dos tênis...

Preso... ainda não se acostumou com a palavra?!
Imagine eu!

X   ---   X              ---               //              ---           X   ---   X

Quando fui avisado que deveria pegar minha passagem e descer do ônibus, meu amigo veio junto:
Policial: Você tem passaporte. Não precisa descer.
Mustafa: Mas nós estamos viajando juntos..
Policial: Você pode continuar viajando.
Mustafa: Mas nós viemos juntos. Eu prefiro ir com ele.
O Policial aponta pra viatura e diz: Isto aqui não é um taxi... Você precisa voltar para o seu ônibus.


Fui eu quem me recuperei primeiro desse beeeelo fora!
- Vai lá Mustafa. Você segue viagem, que eu vou voltar pra Braunschweig, pego meu passaporte lá em casa e, amanhã à noite, pego o outro ônibus pra ir te encontrar.
(Uma vez que eu já tinha a passagem original pro dia errado, bastava re imprimi-la!)





A viatura sai da rodovia e seguiu caminho no meio do matagal.. Pela minha cultura brasileira, fiquei contente ao chegar no quartel e não num cativeiro!
Um dos dois policias estava extremamente transtornado com o fato de precisar me prender e alternava as falas comigo e com sigo mesmo:
Você não está com seu passaporte ai? Não?? Como?! Como alguém viaja sem passaporte...”


Assinei uns papeis, em português, sobre meus direitos enquanto detento. Passei por uma revista intima, tipo clássico no Maracanã (aquilo é muito íntimo!). Por um momento pensei que até fosse rolar um suborno:
- Você tem dinheiro?
- Sim!!
- Quanto?
Abro a carteira: 10 euros!! Catei mais na mochila: Opa, tem mais 20 aqui!


Fui autorizado a guardar a carteira na mochila, assinei outro papel dizendo que não precisava de acompanhamento médico e me avisaram que pela manhã viria uma interprete que falasse inglês. Então, jaula...


 
Que bonito! Minha cela era sol da manhã com vista pra um bosque...
Quando o dia já estava suficientemente claro, e eu ansioso por voltar logo pra casa e pegar meu passaporte, pedi para ir ao banheiro e como quem não quer nada, tentar me informar sobre a tal intérprete...


Da mesma forma que pra mim, o fato de ter dormido na cadeia era um tanto chocante, com o inicio do horário administrativo, percebi que o acontecimento de alguém ser tão burro a ponto de viajar sem passaporte também impressionava muita gente.


O superior (não sei patente!), após me perguntar se eu realmente tinha esquecido o passaporte, me disse que estava tentando chamar a intérprete e perguntou se eu falava alguma outra língua bem. “Português e espanhol” – falei já sem esperança de que isso fosse ajudar alguma coisa na Polônia. A cara que ele fez em seguida me deixou claro que iria mofar lá esperando... o que resultou no complemento “Mas eu posso fazer também em alemão. Não é nenhum problema!”.


O clima era de que em algum momento algum deles iria se irritar com tudo aquilo, me dar minha mochila e falar: “A Alemanha é pra lá.. sai daqui!

Ficou acertado assim então: ele que falava alemão, me faria as perguntas e escreveria o relatório em polonês.

De volta a cela.. café da manhã: chá e dois pães com manteiga e queijo.




Fiquei lá um tempo. Pode ter sido uma hora ou três... é um tanto difícil saber quando não se está fazendo nada.
Fui a outra sala fazer o relatório. Almocei lá: batatas fritas, salsicha e salada.
Paguei uma taxa de 8euros pelo sei lá o que e fui avisado que a polícia alemã viria me pegar às 15hr.


 
Pontuais como bons alemães... faltavam algumas coisas pra assinar, rever no relatório e fui conduzido para fora do quartel pela minha guarda de resgate alemã: 7 oficiais e duas viaturas!


Pela primeira vez do tempo que estou aqui, senti a Alemanha como um “lar”. Voltei aliviado naquele papo furado sobre quem eu sou, que eu faço aqui e tal..


Desembarque na cidade alemã de Forst Lausitz e liberdade...
"Você estava sem passaporte?! Aqui na Alemanha agente cobra uma multa por andar sem passaporte. 15euros."


P%RR#@!/~]... nenhum valor monetário poderia ser mais educativo do que um dia de prisão!! Eu já entendi: Leve seu passaporte!!




Cheguei, finalmente, a estação de trem e não importava qual eu pegasse, chegaria em Baunschweig depois do horário de saída do ônibus a Cracóvia...


Comprei a passagem simples, já que não tinha jeito. Na plataforma conferi o itinerário:



Já que passa em Berlim, porque não passar a noite por lá?
Eu só não queria mesmo, naquele momento, era ficar 7hrs num trem pra voltar pra casa..
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