Ausländerando

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quarta-feira, janeiro 07, 2015

Sol e Templos

NAGARKOT
Levantamos 5:30 naquela tensão: vai dá pra ver o sol nascer?
Ainda havia muita neblina mas já estavamos lá mesmo, então fomos até o mirante da vila.
No alto vemos o tapete de nuvens que cobre a parte mais baixa da montanha onde estávamos. A lua cheia fazia o espetáculo enquanto o sol não nascia.




Até que nasce...




Com o sol a neblina ameniza e podemos ver a parte mais alta da Cordilheira do Himalaia.



A lua se despede e a gente também... hora de voltar para a cidade.


BOUDHA
Chegamos de volta a Boudha no início da tarde e aproveitamos para visitar as gompas da região. Muitos são abertos ao público em determinadas épocas do ano, outros ainda tem hospedagem para quem quiser participar de algum curso ou utilizar a biblioteca deles para estudos.

Orações ao pé da estupa: 

Gompa Ghyamghuti (Tamang & Nyingma):


Gompa Chubsang (Sakya):


Gompa Urgyen Tulku (Kagyu & Nyigma):

Gompa Tharig (Sakya):

Gompa Shechen (Nyingma):


E pra entrar, deixamos os sapatos para prestigiar as orações do final da tarde:

Não é permitido fotos nem videos durante o ritual. O mantra aqui é o "Om mani padme hum" onde Padme é a flor de lótus.
O início da música faz que parece um Noite Feliz, mas logo você se situa...



Hora de levantar... por mais encantado que esteja, minha brasileirice não me deixa parar de pensar: "será que meu sapato ainda tá lá?"


THAMEL
Já que escapulimos de ficar no bairro turístico, aproveitei a noite pra ir sozinho encontrar outros turistas em Thamel. Peguei um taxi próximo a estupa: “Buda Bar, Thamel, conhece?” falei no inglês mais simples possível mostrando um mapa. O taxista faz que sim com a cabeça: 
Mil rupias
- No, no. 400 rupias!
Fui por 500 rupias no que se tornaria um City Tour noturno pelo bairro.

Perdidos!

E parávamos pra perguntar, perdidos, e outra voltinha... aqui se combina o preço do taxi antes, então minha preocupação não era nem financeira.
Um bike-taxi explica em nepalês ao taxista e dps diz pra mim que é ali perto, pra eu descer do taxi que ele me leva. O taxista me faz um sinal discreto de que não vá.. acatei!

O taxista estacionou o carro, desceu comigo e foi caminhando duas quadras até a porta do bar em si. Tipo criança no primeiro dia de creche... sorte a minha!

terça-feira, janeiro 06, 2015

Catmandu e Nagarkot

Como em tudo na vida, existem bons guias e guias indiferentes.
Imaginei que em uma cultura tão diferente da nossa e em um lugar que estamos nada habituados um guia poderia ter muito a acrescentar.

Levantei de uma noite mal dormida. O corpo ainda se nega a aceitar o novo fuso horário. Fui pro carro decidido a dar uma cochilada durante o trajeto mas não rolou... O Mani, o nosso guia para hoje, já nos recebeu com o resumo da história contemporânea do Nepal, estrutura social, mudança da monarquia para o parlamentarismo e etc.

- Unificação do Nepal:
         O Rei Gorkha vendo os conflitos entre os demais reinados da região decide por unificar os povos. Cada um usa o argumento moral que lhe convém né?
Vindo do leste do Nepal, em 1769 ele toma o reinado de Baktapur (que visitamos ontem) e no ano seguinte toma Catmando e Patan, expandindo a “unificação” (leia-se “conquista”) até as terras mais ao oeste de Catmandu.

- Fim da Monarquia
         A monarquia acaba em 2008 após 7 anos de eventos que mais parecem uma adaptação de Shakespeare envolvendo tragédia familiar passional e ambições por poder absoluto.


PSWYAMBU

A Estupa Pswyambu é também conhecida popularmente como Templo dos Macacos.



Apesar de existir no hinduísmo Haromani, o Deus Macaco, este nada tem a ver com essa estupa budista... a razão do nome popular é que o nome na lingua local é bem difícil de se pronunciar, então os hippies que vieram para o Nepal na década de 60-70 apelidaram a estupa desta forma pelos macacos que ali viviam.


As características são as mesmas da estupa que vimos antes em Boudha: o domo redondo simbolizando a meditação como caminho de auto conhecimento, os 13 degraus como caminho ao nirvana e o nirvana em si.
A principal diferença: os 13 degraus não são em quadrado mas em círculo.


A história dessa estupa (ou seria “lenda”?) conta que no topo dessa colina havia uma flor de lótus que emanava luz na escuridão. Para preservar aquela lótus do mal que pudesse sofrer, construíram a estupa abrigando a flor no seu interior.

Ao redor da grande estupa, outras menores.


E ali no meio, entre uma estupinha e outra, um templo hindu...


Pobre monges! Os hindus invadiram o monumento?
Não não, o monumento a um deus protetor das crianças é super bem vindo!
Acontece que a interface entre budismo e hinduísmo é tão grande que aqui dentro muitas pessoas não consideram o budismo uma religião dissociada em si. Então é comum um hinduísta ir a um monumento budista e vice e versa.
É como se um judeu fosse vez ou outra na vida a uma mesquita se ajoelhar em direção a Meca e rezar. Ou um evangélico pedisse a Santo Antônio uma forcinha no casamento...

Na frente do templo, pombos! Muitos pombos!
Aquela bacia de metal no cao é um local para se oferendar grãos as aves.

No topo da escadaria que leva a estupa, dois leões míticos fazem a proteção e a imagem ao meio esta vinculada a masculinidade.

Logo ao lado um sino, representa a figura feminina.

Outra vezes podemos ver os símbolos combinados, unidos. Apesar do simbolo ser diferente, a representação tem o mesmo sentido que nos templos de Shiva visitados antes.


 E ai, já esculpiu sua flor de lotus hoje?


PATAN & KATHMANDU

Esses são os outros dois reinados que haviam no Vale do Catmandu. Junto com Bahktapur, os três reinados eram comandados por diferentes irmãos antes da unificação pelo exército Gorkha.
Podemos notar nas três cidades muitos elementos iguais como por exemplo o sino em frente ao palácio e claro, a estátua do próprio rei, elevada no ar, sentado sobre uma flor de lótus.





O Palácio de Catmandu é bem interessante, pois há uma sucessão de formas arquitetônicas através dos tempos. Cada rei querendo inovar, acaba por criar esse mix único de estilos em 360º.



Na entrada do palácio vemos uma homenagem verdadeira a Hanuman, o Rei Macaco.
Os contos dizem sobre uma princesa que foi sequestrada por um rei de fora e levada a uma ilha. Hanuman convoca a todos os macacos do continente que jogam pedras no mar até formar uma ponte por onde ele foi resgatar a princesa.
Hanuman se torna assim uma figura popular de adoração pelas famílias reais.

Logo a frente do Palácio de Catmandu fomos visitar o Templo da Kumari, uma deusa viva.


VIVA! Em carne e osso.
A Kumari é a representação da energia feminina. A palavra derivada do sânscrito tem significado de pureza.
A menina é escolhida por volta dos seus 4-5 anos de idade (lembra da cremação, que até essa idade a criança não atinge vida material) e permanece como Kumari até a puberdade, quando uma outra menina é escolhida para assumir seu lugar.

O processo de seleção é super rigoroso e apesar dos vários mitos que o cercam, é um processo religioso fechado.

Ah, detalhe: A atual Kumari foi escolhida em uma família budista...


A visita acaba, meus pais foram bater umas fotos e eu me sentei na escada de um templo a Shiva.
- Muita informação?
- Muita! To processando ainda...
- Então pra esfriar a mente, note as figuras ali no topo desse templo


Isso ai, sexoooo! As imagens servem como forma de educação, exaltam a fertilidade e retratam um cotidiano social da época.





NAGARKOT
Findado os passeios na região da capital, topamos o convite do Ranjit & Dhurba de irmos pras montanhas. O plano: ver o por & o nascer do sol no Himalaia.
Eles estão de férias nas férias de inverno na faculdade e tiraram um tempo pra ir com a gente.
Fomos até a estação de ônibus no centro, que se resume a uma rua de terra batida onde o trocador fica pendurado na porta do ônibus anunciando o destino... quem pegava van no Rio conhece a situação! O difícil é saber que essa aqui é a regra, não a exceção.
Entramos no ônibus e vem a primeira instrução: lado direito é só para mulheres. Eles muito gentis acomodaram meus pais em um banco e nós fomos nos degraus do motorista mesmo.
Trocamos de ônibus no meio do caminho e iniciamos a subida a Nagarkot com o sol já descendo... o por do sol teve que ser pela janela mesmo!

Fomos jantar pela vila: cerveja caseira, comida nepalesa e muito papo do tipo “como que é no seu país...?” =)

A cerveja caseira são alguns grãos fermentados que se coloca água quente. A vantagem: quando acaba a caneca, basta encher com mais água quente que ele extrai mais álcool do grão... digo, mais sabor!



Agora é dormir com 2 meias e 3 cobertas. Se a neblina permitir, veremos o sol nascer amanhã.

segunda-feira, janeiro 05, 2015

Vale do Catmandu

Primeiro dia efetivo em Catmandu, todo mundo empolgado. Acordar cedo, se arrumar e correr pra sair... ai!!!


Parece que os 1,85 m do meu pai ultrapassam a estatura média de um monge nepalês...  


PASHUPATI

Pashupati é uma representação do deus hindu Shiva e significa Protetor dos Animais. O templo no Vale de Catmandu é o lugar mais sagrado do Nepal e de grande importância pra toda religião hindu.
Tamanha a importância, o já era de se esperar: Muita gente!


Apesar de haver construções do séc III AC (isso mesmo, sem o X e com o A de Antes de Cristo) o templo em si é so séc XVII.
Falando assim faz até parecer que séc. XVII é recente né? Foi logo ali, antes da Copa de 94...


Na porta do templo principal, no topo da porta, está a imagem do deus Shiva com a pele azulada e segurando o tridente. A imagem parece mesmo afeminada e é intencional. O corpo de Shiva é perfeito e belo como o corpo de uma mulher.
Ai, to começando a me identificar com essas simbologias!

Nas laterais superiores da porta os filhos de Shiva: Ganesh a esquerda com a cabeça de elefante e Kartikay a direita.


 

A entrada no templo só é permitida a hindus. Eles vem com a mancha vermelha na testa simbolizando benção que geralmente lhes é colocada por um parente mais velho ou um líder religioso. Além disso, carregam alguma oferenda: uma travessa com alimentos por exemplo.

Testas com benção

Preparação para entrada. Rapaz ao fundo leva oferendas.


Notou os pés descalços no homem com a oferenda? Há todo um processo de purificação antes de entrar onde o hindu lava os pés e as mãos.
Agora junta tudo: pé descalço molhado, piso de pedra, inverno no Nepal. Quase deu saudade do verão do Rio de Janeiro! Quase...

Mesmo que não possamos entrar, da porta se pode ver a escultura de um grande touro no pátio interno do templo. Shiva cavalgava um touro.
  
Na parte de trás do templo corre um rio que deságua no Rio Ganges. O vale do Rio Gandi corresponde a uma região sagrada para o hinduísta.

Diferentemente de outras regiões, aqui a comunidade realiza a cremação pública. Poucas horas após a morte, a pessoa é trazida para a beira do rio e cremada num berço de madeira junto com alimentos, flores e outras oferendas. Após cerca de 4 horas de cremação, restam apenas as cinzas humanas e restos de lenha que são lançados no rio.
A crença é de que a cremação purifica o corpo material e permite a passagem do hinduísta.


Crianças com até 4-5 anos considera-se que não possuem corpo materializado, por tanto não precisam de cremação. Elas são então enterradas na floresta atrás do templo.

Ao redor do templo principal e na beira do rio existem vários templos menores a Shiva.  Na porta de cada templo, um touro. A imagem de dentro simboliza a fusão entre o masculino (meia esfera superior) e o feminino (circulo inferior).


Quer mais símbolo? Não precisa nem procurar... eles parecem infinitos!
Talhado na porta do templo podemos ver as cobras que significam proteção.




BHAKTAPUR

Na região do Vale de Catmandu haviam três reinados: Bhaktapur, Kathmandu e Patan. Desses Bhaktapur é o que fica mais distante da atual capital.


Assim como as vilas ocidentais são repletas de igrejas e capelas católicas, a antiga vila de Bhaktapur esta repleta de templos hindus dedicadas e diversos deuses e suas personificações.

Na entrada de cada templo ficam os guardiões, sempre em pares: um masculino e um feminino.


E pra mostrar que é masculino, se dispensa o puritanismo anti –natural e tá lá o elefante com ao outra “tromba” esculpida: 

Na entrada do palácio um portão de ouro esculpido com figuras da Kali (manifestação da deusa Parvat) e Garuda (um homem-pássaro que serve de montaria para o deus Vishnu).




E na frente do palácio, nada mais humilde do que uma estátua dourada do rei feita por ele e para ele.



COUCH SURFING
Se a comunidade do CS em Deli foi muito receptiva, a de Catmandu não ficou pra trás... Fui encontrar alGuns deles no final da tarde pra um café.
O ambiente bem turístico mal foi percebido. De cara já Ganhamos uns postais de presente, fomos convidados pelo Ranjit pra ir ver o nascer do sol nas montanas e pelo Dharma pra jantar com a família dele. Toda essa hospitalidade tão latina fazem esquecer o frio e o Nepal parece algo tão mais perto da gente.

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